Por Chris Wolf, atualizado em Março de 2013
Após conhecermos as origens do Baralho Lenormand e de seu passado, vamos falar de seu presente. Como este oráculo é visto hoje em dia? Qual o alcance de seu reconhecimento?
Como 'LENORMAND', podemos hoje definir os grupos específicos de cartas com inúmeras variações, estruturas e simbolismos, incluindo também entre eles as 'gipsy cards' (cartas ciganas). Podemos citar alguns, como o Grand Jeu Lenormand, o próprio Petit Lenormand, o chamado Petit Cartomancie, alguns oráculos que não possuem os naipes em suas figuras e alguns tarôs como o 'Le Petit Oracle du Dames'. São muitos os tipos e decks criados, mas todos eles possuem uma simbologia própria e específica.
Este simbolismo próprio é muito próximo de nós também, fazendo com que o Baralho Lenormand seja um oráculo do cotidiano. Seus simbolos são atuais até hoje, pois mostram coisas, objetos e itens presentes em nossa vida e facilmente entendíveis e transponíveis por seus leitores. O estudo das lâminas e dos símbolos do Baralho Lenormand amplificam os significados e devem sempre ter como ponto de referência o momento onde foram criados e o que signficavam áquela época. Não se pode fugir da matriz simbólica, tampouco se limitar a ela.
Já vimos quais as origens de nosso amado oráculo; devemos atentar ao século, as referências, a cultura da época, a vida num todo. Em pleno século 19 os jogos de carta eram tidos como diversão, e os salões eram divididos - homens e mulheres tinham o seu espaço em separado. Os símbolos presentes na cartas do 'Jogo da Esperança' de Hetchel e nos decks de Baralho Lenormand que surgiram dele contém significados diretos: CASA, NAVIO, TORRE, CORAÇÃO, etc... Muitos símbolos podem ser considerados, inclusive, como não-ciganos, povos que viviam nômades e tinham outros valores de cultura e história.
Sobre os ciganos europeus, inclusive, sabemos que hoje "usam o Baralho Espanhol ou o Tarô, dando preferencia ao Marselha" - nos conta Fábio Donaire, responsável pelo 'Curso de Tarô Divinatório', e que é neto de ciganos andaluzes. Ele complementa: "os ciganos não usam o Lenormand, não na maior parte do mundo. O baralho espanhol é um pouco diferente, tem 04 naipes com 12 cartas cada. Eles chamam a tiragem de 'carteado cigano', mas os sigificados são bem diferentes dos usados no tarô."
Fábio nos conta um pouco mais sobre a atual cultura cigana de cartomancia e divinação: "o baralho costuma ser o espanhol ou francês mas alguns ciganos franceses usam o Lenormand por ser um oráculo comum na França, assim como alguns ciganos brasileiros leem búzios (mesmo sendo também bem difícil). Por influência do boom esotérico dos anos 90, mais especificamente 1994, tornaram-se populares também a leitura de runas e outras releituras modernas de oráculos antigos. Atualmente as atividades oraculares são, na maioria das vezes, o ganha-pão das tribos e eles fazem isso muito bem... Leem mãos, baralho, moedas e alguns feiticeiros (raríssimos!) entendem de astrologia."
Os ciganos hoje tendem a querer tirar o estigma de 'povo mágico'. "Sabe quando a gente chama a professora de 'tia' e cria a fantasia de que ela dá aula por obrigação? Aí não tem o valor que merece, não é reconhecida como a 'profissional' professora... Então, quando vemos os ciganos como um povo mágico, diferente, deixamos de ver suas necessidades humanas, o preconceito que sofrem, a pobreza que os assombra", revela Fábio Donaire.
Sobre os ciganos europeus, inclusive, sabemos que hoje "usam o Baralho Espanhol ou o Tarô, dando preferencia ao Marselha" - nos conta Fábio Donaire, responsável pelo 'Curso de Tarô Divinatório', e que é neto de ciganos andaluzes. Ele complementa: "os ciganos não usam o Lenormand, não na maior parte do mundo. O baralho espanhol é um pouco diferente, tem 04 naipes com 12 cartas cada. Eles chamam a tiragem de 'carteado cigano', mas os sigificados são bem diferentes dos usados no tarô."
Fábio nos conta um pouco mais sobre a atual cultura cigana de cartomancia e divinação: "o baralho costuma ser o espanhol ou francês mas alguns ciganos franceses usam o Lenormand por ser um oráculo comum na França, assim como alguns ciganos brasileiros leem búzios (mesmo sendo também bem difícil). Por influência do boom esotérico dos anos 90, mais especificamente 1994, tornaram-se populares também a leitura de runas e outras releituras modernas de oráculos antigos. Atualmente as atividades oraculares são, na maioria das vezes, o ganha-pão das tribos e eles fazem isso muito bem... Leem mãos, baralho, moedas e alguns feiticeiros (raríssimos!) entendem de astrologia."
Os ciganos hoje tendem a querer tirar o estigma de 'povo mágico'. "Sabe quando a gente chama a professora de 'tia' e cria a fantasia de que ela dá aula por obrigação? Aí não tem o valor que merece, não é reconhecida como a 'profissional' professora... Então, quando vemos os ciganos como um povo mágico, diferente, deixamos de ver suas necessidades humanas, o preconceito que sofrem, a pobreza que os assombra", revela Fábio Donaire.
* Da Europa para o Brasil
Por muito tempo o Baralho Lenormand manteve a chamada 'escola européia'
como única forma de leitura das cartas. Esta escola manteve os
siginificados das cartas tal como foram criadas, apenas mordenizando os
símbolos das figuras representadas.
Baralho Para Ver a Sorte, da COPAG |
Daí para frente, muitos decks foram reproduzidos e "refeitos", para se evitar bloqueios de publicações e pagamentos de direitos autorais. Algumas editoras brasileiras tiveram o cuidado de manter os símbolos originais; outras modificavam aqui e ali as imagens representadas - o que para uma oráculo imagético faz uma grande diferença! Cada local de uso do baralho, agora já bem conhecido como "Cigano", entendia e explicava seus conceitos de forma diferente. Alguns símbolos passaram a representar coisas bem distintas de suas cartas-irmãs européias, e isto gerou uma grande confusão de interpretações que, infelizmente, até hoje ocorre com alguns estudantes do oráculo. Ainda não havia, portanto, uma unidade.
Foi então que por volta dos anos 90, a cigana Katja Bastos e seu marido, César, editaram e publicaram o chamado 'Tarô Cigano da Trybo Cósmica'. Como definido por Emanuel Santos, do blog Conversas Cartomânticas, esse lançamento "viria a revolucionar a abordagem das cartas aqui no Brasil, associando a algumas cartas a influência dos Orixás. Se houveram tentativas anteriores, desconheço; contudo, o baralho desenvolvido por eles, ilustrado pelo artista espanhol Julio Spinoso, é coeso dentro de sua proposta e vem há vinte e oito anos, pelo menos, encantando os amantes da Encantaria Cigana.(...) Como o conjunto é coeso em si mesmo, a ausência de interpretações das cartas comuns relacionadas não faz diferença. É como se esse fosse outro baralho, uma afluência do Petit Lenormand, não apenas uma versão do mesmo."
E é um outro baralho! A reconstrução trouxe à luz esta outra proposta, um novo oráculo genuinamente brasileiro e cigano, e curiosamente o que era lenda na Europa se tornou realidade aqui no Brasil. A unidade desta interpretação do Baralho Lenormand fez nascer a 'escola brasileira' de leitura do oráculo. Essa escola é única e fez com que se ampliassem as possibilidades para aprendizado e entendimento do Baralho Lenormand.
* O Baralho Lenormand nos dias de hoje
Hoje o Baralho Lenormand é (re)conhecido no mundo todo como um oráculo eficaz e o interesse por ele cresce a cada dia. Esse interesse fez com que ele fosse estudado, explicado e entendido pelos seus praticantes de muitos países do mundo. Ainda é algo pelo que passamos, e o bom é saber que as origens históricas do oráculo já foram desmistificadas.
A busca por conhecimento, entretanto, fez crescer ao longo dos anos inúmeras versões para criação do oráculo, muitas hoje reconhecidamente fantasiosas, como se o Baralho Lenormand fosse parte de seitas secretas e/ou tivesse em seus significados e símbolos alguns conceitos esotéricos de ordens perdidas. Hoje nos EUA, inclusive, existe uma corrente de estudiosos e leitores "lenormânicos" que querem voltar a técnica antiga de leitura do Baralho Lenormand para desassociá-lo dessas crenças e usar apenas os temas das cartas deixando de lado toda a sua profundidade simbólica, como se nesse "voltar as raízes" os equívocos existentes sumiriam. Poderia até ter seu fundo de verdade, mas não podemos deixar de lado tanta evolução que se conquistou ao longo do tempo.
O que necessitamos é saber reconhecer o quanto evoluímos e como podemos, daqui por diante, unir as informações pertinentes sobre a origem do Baralho Lenormand com os avanços existentes, e continuar rumo ao entendimento das partes e a evolução sadia deste oráculo que tanto amamos. Reconhecer o verdadeiro passado, viver bem o atual e rico presente, para seguirmos num futuro amplo e engrandecedor.
(arquivo pessoal) |
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Maravilhoso artigo, Chris! De fato, a história é feita de memórias e esquecimentos, mas, como oraculistas e pesquisadores que somos, devemos estar atentos para o crescimento, o desenvolvimento do oráculo, para além do maniqueísmo certo/errado. O que foi agregado - e a Escola que se estruturou a partir do agregado - atesta isso. E, como digo, a mão que manipula as cartas é sempre soberana, ou seja, não há "erro" na interpretação se a entrega for verdadeira e a Visão for clara.
ResponderExcluirQue essa história permaneça nos dando tantas alegrias quanto for possível, e, se calculo bem, são alegrias infindáveis.
Um beijo!
Fico muito feliz em reencontrar aliad@s de evolução que escolheram a interpretação dos símbolos sagrados como forma de expansão da consciência; esse é o Espírito da Trybo Cósmica - compartilhar conhecimentos para que tod@s possam atingir suas metas de crescimento pessoal.
ResponderExcluirMuita luz em nossos caminhos!
Maravilhoso resgate da historia do baralho lenormand! Realmente o sincretismo religioso aplicado aqui no Brasil, permitiu a difusão do baralho (inclusive a sua utilização por mim em rituais) aplicado a mística Cigana na Umbanda. É um baralho que em minha mesa de jogo, participa juntamente com os búzios dos Orixás no atendimento aos meus clientes em total harmonia.
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